terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Dispensa Título

E já eram tantas iguais aquela noite. Tantas ruas igualmente vazias. Tantas moças igualmente embriagadas. Tantos cigarros abandonados ainda pela metade. Assim era ela. Igual a tantas. Fazia o mesmo esforço de qualquer sábado à noite: equilibrar-se no salto, desviar dos mendigos, não derrubar a última cerveja e por fim, entrar na casa certa. Se mantinha seriamente concentrada nesta equação. Não sabia sequer pronunciar o nome daquela rua. Sua pele mudava de tom conforme se afastava de cada poste, da iluminação pública. Sentia mesmo que fazia parte daquele lugar. Como se súbito algo lhe arrematasse os sentidos. Sempre fora ignóbil, lasciva e até um pouco selvagem. Mas como que se dando conta de que ainda segurava uma mão, que tremia mesmo perante tamanho calor; apertando forte aquela mão, sentiu que não podia mais. Parou, tirou os sapatos. Vacilou. Acendeu mais um cigarro:

-Te levo pra casa. (Sou diferente, porra.)

-Não precisa. (Me desculpe.)

-Tudo bem, quero andar mesmo. (Eu te amo.)

-Tá. (És uma fraca de merda, isso que tu és.)

Ela nunca soube se era tão diferente quanto pensava. Seus lábios tingidos de rosa não lhe pareciam muito incomum. Até seu vestido todo puído não se destacava perante as poucas sombras andantes daquele lugar. Seu passo trôpego, seu cabelo desgrenhado, suas unhas roídas. Ostentava um enorme orgulho em ser absurdamentepertencente aquela paisagem. Mesmo sem ouvir qualquer palavra daquela despedida, sabia que no fundo, ele também pertencera aquela podridão. Ele também pertencera a ela. Mas esses tipos de moças não se deixam possuir. Por isso tomam aspirinas pela manhã, e esquecem-se de rostos, mãos, dívidas e jogos. Antes de entrar em casa, ela simplesmente nota que já é de manhã, e perdeu os sapatos no caminho. Quanto a ele, já nem se lembra mais da garota, que neste exato momento tranca os portões querendo que ele a siga vida a dentro.


de Isabela Simão para Marcelo Ferreira

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Num bar, com um vinho barato, um cigarro no cinzeiro e uma cara embreagada no espelho do banheiro

Posto a ver que o mundo continua o mesmo, me recordo que tenho um blog e assim se faz a vontade de voltar a escrever. Na verdade só não fiz antes devido que minha internet não estava colaborando com a minha paciencia e vontade, não respectivamente nessa ordem. Me lembro que não falei nada sobre a virada, na verdade nem tenho o que falar, só estava no devaneio da vodka, tequila e cerveja, mas teve seus pequenos momentos bons que me recuso a falar sobre e os ruins, claro. Penso que talvez este ano eu mude daqui pra fazer faculdade, logo arrumar um emprego e constituir familia, tá, to apressando um pouco as coisas eu acho né, até por que constituir familia como estão as coisas hoje é uma convicção invejavel, ao menos para mim.
Ah, quase me esquecendo que adquiri a compra do 1985, o livro que eu mais almejo, acho. Mas tava lendo o prefácio que achei e meu deus, Anthonny é muito convencido, acha que laranja mecanica é melhor que 1984? Só por que 1984 é cacatopia? Vai dormir meu querido, alias, eu amo seu glossário de nadsat, então senta aí só.
Não vou me prolongas no primeiro post de 2011, apenas torçam pra mim conseguir realmente fazer faculdade bonitinho. E amanha posto um conto que eu mesmo escrevi, que sério, de certa forma eu gostei muito.

Enfim, obrigado pela atenção.